quarta-feira, 31 de agosto de 2011

UZASAN nas terras de Além Mar

Este texto foi um presente do André Correia, aluno da oficina que ministrei no Sesc São Gonçalo em 2009. Uma homenagem para o meu trabalho e a missão de todos nós, contadores de histórias. Uma visão lúdica dos nossos encontros tão afetuosos. Obrigada, André, pessoa que tem um coração onde cabe toda uma cidade!
Hó...heeeei.....e diga ao povo lá de sua terra, que carregou um largo sorriso no rosto, viu? Daqueles sem explicação nenhuma....vá ..vá ...vá com Deus....” Isso era uma velhinha lá perto de casa que adorava contar histórias. Ela tinha centenas e milhares de histórias. As minhas favoritas eram as que falavam sobre magia e castelos encantados. Ela me disse que uma vez, em uma terra não tão distante daqui e não tão distante dali existia uma região onde os rios corriam para o mar, e as árvores forneciam oxigênio, como em qualquer outro lugar do mundo. Nessa terra, havia um castelo... Mas não era um castelo simples. Era daqueles, tipo Harry Potter, sabe? E lá vivia um ser mágico, que só havia saído de trás de suas muralhas por duas vezes.E sabe lá Deus por que motivoespecial.

Pois bem... foi lá pras bandas do século XXI. Pra ser mais exato, no ano de 2009. Pra ser mais exato ainda, no inverno de 2009. Eeeeee pra ser mais exato ainda, no mês de agosto do inverno do ano de 2009. Eeeeeeeeeeeeee pra ser mais exato ainda, no dia 11 de agosto do inverno do ano de 2009. Ufa! Essa seria sua 3º saída, e ele resolveu visitar “As Terras de Além Mar”. Essas terras pertenciam ao colonizador Gonçalo Gonçalvez. Lá, vivia um povo que era conhecido como PONTO. Eram de fato cidadãos PONTONENSES. E para esse povo chamado ponto, o “ser” mágico cismou em contar alguns contos. E para cada conto, um encontro, que gerava um novo conto. E para cada conto, aumentava-se, um novo ponto. Eeeee... Ponto final. Ponto final? Ponto final é uma vírgula! Exclamou o contador: a história está só começando...

Acontece que para convidar os pontonenses, o misterioso “ser” resolveu criar publicidade para o acontecimento, e colocou vários cartazes espalhados nas terras de Gonçalo Gonçalvez.  A região de Zé Garoto foi mesmo muito privilegiada. O mestre não poupou esforços na publicidade: ao lado do pé de alegria, acima da marquise da dona paciência, no quadro de cortiça do posto da felicidade e por aí foi, em todos os lugares que julgava serem interessantes. E assim foi feito. Deu certo!

Os cidadãos pontonenses passavam e liam as mensagens: COMO O TEMPO PASSA QUANDO A GENTE CONTA HISTÓRIA. Esse foi o título que escolheram! Outro cidadão passava e lia em outro ritmo: Como o tempo passa, quando a gente conta históriaaaaaa. E outro cidadão passava e lia em um ritmo mais diferente ainda: COMO o tempo, PASSA, QUANDO A GENTE, CONTA HISTÓRIA. E outro passava... e outro , e outro, e outro, e outro, e outro. Todos repetiam juntos, hipnotizados, a mesma frase: COMO O TEMPO PASSA, QUANDO A GENTE CONTA HISTÓRIA. E isso era só o título...
As informações seguiam em letras garrafais:
DE 11 a 21 DE AGOSTO
DE TERÇA A SEXTA-FEIRA, DE 14 ÀS 17H.
EMBAIXO DO PÉ DE JEKITIBA REI, AO LADO DO CONDADO DE JEKITY.
LEVE CORAGEM, COMPETÊNCIA E DETERMINAÇÃO.
NÃO POSSUÍMOS TELEFONE, SENDO ASSIM, TERÁ
QUE COMPARECER, CASO QUEIRA PARTICIPAR.
LEVE O CORPO, E NÃO SE ESQUEÇA DA ALMA.
ATENCIOSAMENTE – Usazan

Nome poderoso heim? Foi como um imã. Os escolhidos pela magia das palavras viram os cartazes nos mais variados lugares possíveis. E no dia combinado lá estavam os pontos abençoados, embaixo do Pé de Jekitiba Rei, postos sobre um gramado intensamente verde em uma tarde ensolarada do inverno de 2009.

Usazan, coberto pelo seu manto sagrado, nos mirava da fresta de seu capuz . Ao tirá-lo, suspense! Veio a surpresa. Os pontos olhavam admirados. Usazan era uma menina. Uma menina? Uma menina não. Era uma moça. Uma moça? Uma moça não. Era uma mulher. Uma mulher? Uma mulher não. Gente, não dava pra explicar sabe? Era uma mistura mágica de menina, moça e mulher. Pelas bandas das Terras de Além Mar ainda não havia passado nada igual. De feições afinadas, cabelos pretos, de semblante alvo, de corpo esguio, de mãos delicadas.....suspiros, os pontonenses suspiravam.

Usazan abriu os braços sem dar chance a comentários. Do lado esquerdo de seu peito fez-se um círculo de luz e fogo. Os pontonenses olhavam cegamente estatalados... tremiam como varas verdes. E, num instante, começaram a sair raios luminosos de dentro do círculo. Eram muitos, um de cada vez. Tiussss. Tiusssss, Tiussss, os raios explodiam para o ar. Em um passe de mágica, Usazan e os pontonenses levitaram ao som dos cantos mágicos e de danças Incas. E os pontonenses? Esses também jorravam raios luminosos, mas só que desgovernados. E os danados suavam, suavam e suavam.

Os raios de Usazan cruzavam com os raios pontonenses. E a cada toque um alimento. Os escolhidos estavam sendo alimentados pela sabedoria que Usazan gozava. E Usazan também sentia. Usazan também gozava!
E a magia continuava. A essa altura? Bom... Havia pontonenses que tinham desalinhados os cabelos, balançado seus corpos em simulações sexuais, feito xixi na calça e outros bichos mais... Mas, a magia naum tava nem aí pra isso e continuava. E tudo isso a não sei quantos pés de alturas.

E eles foram girando no ar em forma de espiral: vup... vup....de forma lenta e aumentavam gradativamente. Vup, vup, vup, vup, vup, A magia explodia, e como já era combinado, os pontonenses cresciam. Vup........... vup.............. vup...................vup....e eles voltaram a girar lentamente. E foram baixando, e baixando, e baixando e baixando e pisaram em solo firme. Os pontonenses descompostos começavam a se ajeitar. Aquilo era só o começo. E pouco a pouco os pontonenses começaram a abrir os seus olhos em direção aos outros. E começaram a perceber que havia uma palavra gravada no peito de cada colega.
Vida, aprendizado, dedicação, descoberta,
aperfeiçoamento, memorização, sonho,
autoconhecimento, prazer, segurança, satisfação,
combinação, novidade, uma troca inefável, FE LI CI DA DE!
Entre os corações que batiam acelerados, havia pontonenses determinados, pedadogos, historiadores e pontonenses geógrafos. E como terminou essa história? Os encontros se repetiram nos dias combinados. As magias e as histórias contadas foram cada vez mais longe em seus absurdos e fantasias improvisadas. E como tudo na vida tem um fim para que sejam possíveis novos começos.....suspira-se..... Os encontros terminaram!
O Jekitiba Rei continuou a ser palco de centenas e milhares de outros encontros não revelados nessa história. O Condado de Jekiti? Esse foi apenas um ponto de referência, e não cabe maiores explicações sobre isso.

Quanto aos pontonenses? Esses nunca mais foram os mesmos. Definitivamente cresceram. Dizem que tiveram filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Dizem também que antes de escreverem os versos de suas lápides, os pontonenses contaram histórias e fizeram mil e uma magias.

E dizem até que tiveram pontonenses que repetiram os feitos de Usazan.
Usazan? Ela voltou para seu castelo mágico nas terras de Laranjeiras. Dizem as boas línguas que carregou um largo sorriso no rosto, daqueles sem explicação, e isso,
até os últimos dias de sua vida!

E eu? Eu voltei para ouvir as histórias, as outras tantas histórias da velhinha. A história da menina que havia trocado de coração, do menino que foi expulso da escola sem qualquer explicação, da menina travessa que jogava futebol e até de uma magrelinha, tímida e doidinha, que havia ganhado um concurso de dublagem de Michael Jackson. Hã...e tinha também a moça que brincava de fazer marionete...tinha a moça enfermeira, tinha a do ceguinho pentelho e cheio de determinação na vida...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

histórias sobre desejos e sabedorias

"O alvo", de Ilan Brenman. Toda a história ia aparecendo na superfície escura pelo giz. Platéia foi modelo para desenhos dos personagens e crianças ambientaram com seus  desenhos. Um conto que é uma grande homenagem aos contadores de histórias. E com um final surpreendente!



História "A lua dentro do côco", sobre um macaquinho que queria pegar a lua e fez de tudo para isso. Aqui os instrumentos eram os personagens e as crianças faziam a percussão durante as músicas. Momento delicado e gostoso. Teve até mãe chorando emocionada.